Fogo do Coração

No trágico e gigante incêndio de 15/16 de Out. 2017, juntamente com uma grande perda florestal e humana, perdemos o BUS onde vivíamos com a maior parte dos nossos pertences.

Nas muitas dádivas solidárias que tivemos, as calças de ganga foram as rainhas! Eram tantas que, após algum tempo, o impulso criativo veio à tona. No sentido de combater o desperdício, de aproveitar a criatividade que aflorava, o gosto pela costura, a paixão pela Natureza e numa forma de honrar a transformação deste trágico acontecimento, criei o Fogo do Coração.

"Os retalhos do que foi constroem o que é.

Peça a peça, num passo a passo, transformam-se.

Fogo na dor da ilusão.

Para ver, aceitar e acreditar na realidade do amor, transparência, criatividade, união, ajuda e evolução.

Assim seja!”

Das entranhas ardidas

Num fogo incontrolável

Surjo Eu

Um Eu que não é diferente de tudo

Tudo e todos


O que farias se um dia o fogo viesse, sem qualquer aviso, e levasse tudo?

O que farias se o fogo queimasse memórias físicas, vidas animais, plantas, florestas inteiras?

O que farias se um dia o fogo levasse a tua casa, os teus pertences?

O que farias se um dia o fogo levasse tudo o que vias?


Pois o fogo veio e levou tudo.

Será?

Levou tudo material e até vidas! Levou paisagens, solos, árvores centenárias, javalis, gatos, cães, aves, arbustos e florestas completas.

O inferno abatido no exterior era o inferno que consumia o interior.

O coração deixou de bater e o amor e a vida deixaram de existir por muito tempo.

Da solidariedade e do amor veio o renascimento.

Do preto soturno, da morte inevitável e do fogo transformador, veio a plenitude e a esperança. A fé na recuperação, a paz de vidas vividas.


Agora a vida é essencial.

O sentir de tudo na plenitude.

O estar ao serviço de algo maior.

A transformação de coração de fogo num fogo criativo, numa exposição de paixão.

Daquilo que é inútil para muitos, na transformação tradicional, carregando algumas tradições portuguesas, surge o trio do fogo do coração.


Para que (re)conheças a vida do interior de Portugal.

Para que o centro do País vá para todo o lado.

Para que estas plantas, estes animais e estas aldeias toquem o teu coração.

Para que sintas a faísca no teu coração e o expresses na paixão plena do teu ser.


Em gratidão a esta terra.

Em gratidão a este país.

Em gratidão a estas pedras.

Em profunda gratidão com estes animais e com estas plantas.


Para que as gentes destas aldeias sejam tocadas pelo vosso amor e carinho.

Que esta serra seja sempre lembrada e apreciada, pois aqui, bate um coração forte, um coração que renasceu de um fogo transformador e que arrebate qualquer um@.

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Fotografias por Raquel Perdigão Williams, tiradas em 2017 na Serra do Açor, Sardal

Texto, voz e adufe por Raquel Perdigão Williams

Nas fotos: Mizé Jacinto

Projecto One de Maria José Jacinto, aqui


O Trio 

Almofadas, Coletes e Sacos

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