Dolméns - Orca e Víbora
Hoje foi dia de viajarmos rumo a Carregal do Sal. A poucos quilómetros de distância daqui de casa, no entanto, algumas mulheres viajaram do Porto e de Santarém para estarem connosco.
Fomos 5 mulheres no total.
Com diferentes naturalidades e diferentes expressões da história Luzitana.
Comemos aqui mesmo, antes de partirmos. Uma refeição muito simples e fresca por o dia adivinhava-se muito quente.
De saias vestidas e de instrumentos de poder nacionais, lá nos metemos ao caminho.
Por sermos só 5, felizmente coubemos em apenas um carro o que foi maravilhoso, pois a viagem começou de imediato.
Ao explicar o tema desta viagem, a conversa de imediato fluiu.
O mais engraçado, e eu diria mágico, é que ao colocarmos no GPS a morada do local, por alguma razão, o GPS levou-nos por outros sítios e chegamos a outro destino que parecia uma estrada sem saída. Por esse engano, acabamos por passar por uma localidade perto de Tábua chamada Baubau (Deusa Baubau ou Baubo, sentada nas costas de um javali, de pernas abertas apontadas para a sua vulva exposta. Uma imagem que relembra a sacralidade da vulva, um portal orgásmico da vida e da morte. in "Luzitana"), uma aldeia chamada Lapa do Lobo, a relembrar-nos as nossas lobas internas e por uma referência a Valinhos, a mostrar-nos o manto de Maria e o quanto estávamos protegidas nesta viagem/jornada.
Achei importante irmos a um local de morte para deixar para trás o que já não serve mais. Neste caso, e em específico, o objectivo era, em ritual, consciencializar em cada uma de nós quais os limites que impomos a nós próprias em termos sexuais e corporais. Com que limitações nos deixamos identificar quando nos relacionamos com o nosso corpo? Como vivemos a sexualidade de uma forma não saudável? O que é ser mulher e estar no corpo?
O primeiro local que visitamos foi o Dólmen da Orca.
Entramos, ritualizamos e saímos.
Entramos com coisas velhas, tomamos consciência, individualmente e com o apoio de todas as mulheres, e largamos. Queimamos o que não nos serve mais como mulheres Luzitanas em termos corporais e sexuais. Deixamos lá as nossas cinzas, no local de morte e enterro.
Saímos novas, mais leves e prontas para o segundo local.
Visitamos agora a Orquinha da Víbora. Tão remexida e incompleta, tão violada.
Aqui, o convite foi, agora leves e novas em termos corporais e sexuais, a deixar vir à tona as nossas expressões naturais. Como se movia o nosso corpo? Como se expressava a nossa voz?
Tanto foi visto e vivido.
Tanto foi transformado.
Tanto foi sentido.
Tanto fomos individuais e juntas.
Que mais viagens nos transformem e nos permitam ser a Luzitana que somos.
Testemunho da Lúcia:
DÓLMEN DA ORCA
Chegamos
Viagem de tanto sentir
Chego e de cócoras sou chamada
A descarregar meu sangue e não só
Que descarga
A purificação já tomou espaço
Esta terra já recebeu das minhas entranhas
Que alívio eu sinto
Agora estou pronta para entrar
UAU eu me lembro de pensar
Ao ver que tamanho Dolmen
Nunca tinha visto um tão grande e imponente
(Pelo menos nesta vida)
Que presença
Só quero entrar e estar lá dentro
Peço permissão
Entramos uma a uma
Sentamos nos em círculo
Construímos o nosso altar
E uma nova viagem começa
Sinto me protegida por estas grandes pedras
Sou convidada a transformar e rever novas ideias
A activar a minha criatividade
E a expandir horizonte
Eu sou capaz a Tecelã me diz!
Estou pronta!
Senhora da Azenha é se ouvida
E agora é hora deixar morrer
Cada uma escreve
Cada uma coloca no típico pote português
Ao pote são deitadas as chamas
Juntamente com as poderosas ervas que a Raqeul colhe e secou
Deixamos,
Morremos para algo,
Vivemos e sentimos
Limpamos uma a uma as nossas vulvas
Com o fumo purificador da Sálvia e do Absinto
Perna aberta,
Vulvas descobertas
Nos limpamos e amamos
Lindo sentir,
Lindo ser limpa,
Lindo ver as vulvas das minhas irmãs a serem limpas
Registo que marcam
Histórias são ouvidas
Partilhas feitas
Deusas reconhecidas
Imagens nas pedras se revelam
Yonis á nossa volta
É hora de atravessar o canal
Intimida e chama ao mesmo tempo
Que canal é este
O que ele conta?
O que ele revela?
Estarei pronta?
Vejo as minhas irmãs
E chega a minha vez
A rosa vermelha tem que ir comigo
Aí vamos
As pedras pedem para ser tocadas e sentidas
De cócoras fico
Entrego a rosa
Coloco as mão nas pedras
E a voz surge
Voz que purja primeiro
E depois voz que relembra os cantos do útero
O canto que sai do meu útero e da minha alma
Canto para aquele canal
Para as pedras
Para mim mesma
Para o meu canal
Hora de ir
De voltar ao círculo
Algo foi entregue
Não sei bem o que
Mas agradeço
Ritual termina
Obrigada por nós receberes
Por nós limpares
Por nós contares tuas histórias
Por nós protegeres
Obrigada
É hora de fechar e sair.
A tua volta caminho por fora
Te honro
Te vejo
Te aprecio
E te deixo deixando me ir
Seguindo em frente
Diferente e mais erguida
Aqui vou eu
Aqui vamos nós
ORQUINHA DA VIVORA
Chegamos no segundo destino
As expectativas estão altas
O sitio em si estava visivelmente não bonito
Remexido
Meio destruido
Desonrado
Foi difícil de ver
E ao mesmo o convite foi sentir o sitio
Não com os olhos mas com todos os sentidos
Primeiramente foi senti lo pela expressão musical
O convite era mesmo largar e ir com tudo
Senti o impacto de quando nos contemos na nossa expressao
E da responsabilidade que todas temos em simplesmente sermos
Continuei a dar me naquilo que me era possível
A voz emergiu e o bater no drum que carreguei
Foi simples
Bastante intimo e mais silencioso
Mas foi o que o naquele momento podia ser dado
Relaxei porque o resto que estava a sentir não era meu
Aceitei e amei-me
Dando valor e apreciando o que o meu corpo estava a dar naquele momento
Na sua simplicidade e presença
Nessa aceitação veio o proximo convite
Um convite bastante expressivo
Um convite corporal
Convidando a esticar,
Contorcer o corpo,
Sentir cada movimento
Ser a cada movimento
Ser a expressão que queria sair
Que libertador foi
Honrei o circulo que não era visto com os olhos
Mas que estava la
Honrei a representação do utero e do canal uterino
Através do movimento do meu proprio utero
Honrei a vivora com a ativação da serpente dentro de mim
Retornamos ao nosso circulo fisico
Era hora
Que bom foi partilharmos
Vermos o quanto estávamos ligadas
Mesmo cada uma estando a viver o seu próprio processo
Realizar o que cada uma intuiu à cerca uma das outras
Marcou me sentir a Ana e partilhar o que senti
(Que quase tomei como meu mas era dela)
E foi lindo partilhar dor de não a ter ouvido
Não ter sentido a voz dela e a expressão dela
Mas nada estava perdido
Simplesmente foi o convite para o agora
A oportunidade não foi perdida
Tudo estava a li pronto para recebe-la
"Queres manifesta-lo agora?"
Foi a pergunta para ela
A qual ela abraçou com unhas e dentes
Com todas as suas entranhas
Alma,
E Ser,
Que bom ouvi-la cantar e gritar
A pele arrepio-se continuamente
Foi a representação mais pura e verdadeira
Que podia ter sido manifestada
Grata a ti Ana
E
Grata a todas Nos
Grata aos convites infindáveis que nos eram propostos
O que acontece quando simplemente estamos juntas
É magico
É poderoso
É revelador
E tão necessário
Redescobrir sítios é (re)descobrir-nos
Estar em contacto com a historia é resgatar-nos
Para renascer precisamos de morrer
Para morrer precisamos de encarar tudo
E nesse tudo está a historia
De quem fomos
Do que sentimos
Da dor que carregamos
Deixar tudo isso é o resgate mais puro da Alma
Da Alma que esta aqui pronta
Para jorrar
Pronta para criar
Pronta para expressar
Se escolho andar
Se escolho ir
O convite é então devolver
Com a mais pura expressão do meu ser
Simplesmente sendo EU PRÓPRIA
Nada mais mas nada MENOS também
Sem duvida esta viagem marcou-me...
Marcou me até as entranhas!!
Testemunho da Joana:
Nós sendo reais, o amor é mais real. Tive uma experiência quando caminhava na Natureza, logo no dia a seguir; só tenho de ser autêntica e verdadeira, não é preciso mais nada e olho para o lado e vejo uma pele de cobra no caminho com cerca de 50 cm. O trabalho que fizemos e com tudo aquilo que vivemos juntas neste dia, percebi que a pele velha já tinha sido largada, especialmente depois de irmos à Orquinha da Víbora! Ofereci a pele de cobra a um sítio que faz parte do meu passado. E percebi que posso resgatar a minha essência em vez de me dar, entregar. Partilhar é diferente de me entregar.
Fotos por Lúcia Moreira excepto as últimas 5 que foram tiradas por mim.
NOTAS:
Circuito pré-histórico ou megalítico de Fiais/Azenha
Dólmen da Orca
O Dólmen da Orca, também chamado de Orca de Fiais da Telha ou Lapa da Orca, é a grande jóia da coroa do circuito e foi considerado monumento nacional em 1974. É um dos maiores dólmens em Portugal, assim como um dos mais bem conservados. Mantém todos os nove esteios da câmara intactos, com apenas uma fractura num dos mesmos, assim como a laje de cobertura, gerando assim uma imponente câmara sepulcral de forma poligonal com uma altura de três metros. Em igual bom estado de conservação encontra-se o corredor ligado à câmara, o qual atinge os sete metros e meio e mantém quinze esteios assim como todas as respectivas lajes de cobertura, permitindo assim ver o dólmen praticamente por inteiro, conservado até aos dias de hoje. Adicionalmente, o Dólmen da Orca preserva ainda parcialmente a sua mamoa, que embora já não envolva uma parte da câmara, que é visível acima da mamoa, cobre praticamente o corredor todo, e apresenta um impressionante diâmetro de 20 metros. Em termos cronológicos, o Dólmen da Orca situa-se provavelmente numa origem entre os finais do IV milénio a. C. e inícios do III milénio a. C., sendo mais recente que outros grandes dólmens no sul, possivelmente um dos factores que leva a que esteja tão bem conservado.
Orquinha da Víbora
Outros indícios pré-históricos No circuito pré-histórico existe ainda um conjunto de gravuras rupestres gravadas em dois afloramentos graníticos maciços, os quais contém conjuntos de símbolos essencialmente cruciformes, sendo que alguns dos mesmos em associação poderão formar representações antropomórficas, embora seja algo ambíguo. Mais certa será porém a significância mágico-religiosa destes símbolos, de cuja decifração poderemos apenas especular.
Lenda do Penedo da Víbora
No circuito pré-histórico encontra-se também um penedo, onde está localizado o marco geodésico, no qual em tempos terá também existido uma outra anta, hoje em dia desaparecida, e que é chamado de Penedo da Víbora. Talvez pela atmosfera ancestral, misteriosa e mágica que um local povoado por monumentos megalíticos emana, e pelo efeito que tal atmosfera poderá ter tido nas populações rurais que foram vivendo em redor do circuito, gerou-se na tradição popular uma lenda associada ao dito penedo. Esta lenda conta que em tempos terá havido em Oliveira do Conde (povoação próxima do circuito pré-histórico) um castelo que albergava uma princesa moura e um príncipe cristão, que ali se tinham refugiado, vindos não se sabe de onde. O casal era muito reservado e escondia-se da população, e só queriam saber de si mesmos. Um dia, no entanto, passou pelo castelo uma velhinha muito pobre, e pediu alojamento ao casal. A este pedido o príncipe e a princesa responderam com escárnio orgulhoso, dizendo à velhinha que o castelo era só para eles e que não a queriam ali. Só que a velhinha era na realidade uma fada disfarçada, que perante tal falta de solidariedade e egoísmo resolveu castigar o príncipe e a princesa, transformando o príncipe num rouxinol e a princesa numa víbora, e o castelo num penedo. Amaldiçoou ainda o príncipe a cantar de dia e de noite, fizesse chuva ou fizesse sol, em cima do arvoredo. A víbora, por sua vez, passou a atar a sua cauda ao dito penedo, e ia beber ao Mondego, para ouvir o rouxinol que era o seu amor a cantar em cima do arvoredo. Ao fazê-lo, a víbora costumava dar de caras com tecedeiras, as quais também iam para o Mondego, e estas costumavam atirar novelos à víbora e fugir de seguida com medo. A víbora costumava apanhar os novelos, e colocá-los num açafate que tinha no penedo. Só que um dia as tecedeiras atiraram-lhe tantos novelos que a víbora ficou sem espaço no açafate, e começou a devorá-los, mas encheu demasiado o ventre e acabou por explodir e morrer, ficando apenas o penedo, o qual se chama portanto Penedo da Víbora. Uma lenda curiosa que transmite uma certa magia a um local que por si só já emana um certo misticismo ancestral e o efeito de nos transportar momentaneamente ao passado.
Textos retirados de:
https://www.portugalnummapa.com/circuito-pre-historico-de-fiaisazenha/
Dólmen da Orca: lat=40.443850 ; lon=-7.93819
Orquinha da Víbora: lat=40.437400 ; lon=-7.9426
Penedo da Víbora: lat=40.433733 ; lon=-7.9465830
Orca
símbolo de poder, sabedoria e proteção. Uma das lendas mais populares sobre a orca é a de que esses animais são guardiões dos mares e dos rios. Segundo essa crença, quem tem uma orca como espírito animal está protegido contra as energias negativas e tem uma forte conexão com o mundo espiritual. Outra crença relacionada à orca é a de que esses animais são capazes de curar doenças e equilibrar as energias do corpo. Diz-se que a presença da baleia assassina em um ambiente é capaz de purificar o ar e afastar os maus espíritos. O simbolismo da orca na espiritualidade e no misticismo Além de ser um animal poderoso e misterioso, a orca também tem um forte simbolismo na espiritualidade e no misticismo. Esses animais são frequentemente associados à coragem, à determinação e à força. Na cultura esotérica, a orca é vista como um símbolo de liderança e de trabalho em equipe. Isso se deve ao fato de que esses animais caçam em grupo, e cada membro da equipe tem um papel importante a desempenhar para garantir o sucesso da caçada. Para quem busca inspiração e motivação, a orca pode ser um símbolo poderoso. A imagem desse animal saltando fora da água com elegância e força pode ser um lembrete constante de que somos capazes de superar qualquer obstáculo se tivermos determinação e coragem.
Retirado de: https://guiaesoterico.com/orca-no-espirito-santo/
Fiais da Telha
Fiais da Telha é uma aldeia da freguesia de Oliveira do Conde, no concelho de Carregal do Sal.
Situada em plena Plataforma do Mondego, implantada em zona plana, num amplo maciço antigo do Planalto Beirão, e enquadrada pelos rio Dão, a Norte, e pelo rio Mondego, a Sul, foi sendo ocupada pelo Homem desde tempos pré-históricos, evidenciando inúmeros vestígios arqueológicos daquela época e de ocupação contínua do seu espaço, desde o Período Romano e Época Medieval.
É, assim, pela sua génese geomorfológica e orográfica, um espaço sem grandes elevações, salientando-se as suas vertentes suaves para os vales daqueles importantes recursos fluviais, nas quais predominam as densas manchas graníticas características desta região.
Característica, que veio a proporcionar excelentes condições naturais de fixação humana, já desde o período Pré-histórico, sendo, no presente, um facto comprovado pelo elevado e diversificado número de testemunhos arqueológicos inventariados na zona, atribuíveis aos Períodos Neolítico, Calcolítico e Idade do Bronze, passando pelos vestígios de ocupação romana, até à Idade Média.
Insere-se no Concelho de Carregal do Sal numa zona da Península Ibérica, berço da antiga Lusitânia, sendo muitos os testemunhos históricos da passagem dos primitivos invasores.
Dos antigos povos ficaram antas. Próximo ao centro da aldeia, encontra-se o Dólmen da Orca ou Lapa da Orca, também conhecido por 'Orca de Fiais da Telha', implantado no Planalto do Ameal, tendo a sul o Rio Mondego e a Ribeira de Azenha a Noroeste, coordenadas UTM 29 TNE 902778, Carta Militar de Portugal Nº 211 de Ervedal da Beira de 1993, a uma altitude de 313 metros.