Erva Moura/Moira
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Javalis
Um osso que abre
Como mulher a parir, ou tivesse parido um bebé
Pois pariu-se a si própria
Há um luto do que foi
Tudo se transformou em luz
O seu corpo está a habituar-se
No nascimento há morte e na morte há nascimento
E a erva moira/erva moura traz isso
O que está escondido no escuro vem à tona
E mostra a vida que há na morte
Por agora, só as folhas verdes
Folhas que protegem, que saram e sanam
Que o que está no escuro também quer ser visto e ouvido
A doçura das bagas, reclama os frutos de estar na lama
As bagas são a fénix que renasce das cinzas
A erva moira não é veneno
É medicina
É a bonança depois da tempestade
Aplica a maceração das folhas nos ossos doridos
Ossos de matéria mortais se transformaram em solo fértil
Raiva que se transformou em amor
Transformação do noite em dia
Da sombra em luz
Lembra-te das flores bem pequeninas
Branquinhas com um centro de luz dourada
Porque às vezes, nos pequenos pormenores está a verdade e a liberdade
Um suco nutridor, que não é bebível, mas é poção para o luto
O luto da sombra
Porque ela foi companheira
Num processo de transformação
Porque tudo faz sentido
Mesmo a dor
Permite-te ser feliz amada
Está tudo certo e sempre esteve e sempre estará
Passinho a passinho
Agora protege-te e limpa as feridas e as cicatrizes, o pensamento do que foi com o suco da planta, em meditação
Um banho interno e externo de Erva Moura
A forte, a que surge do nevoeiro
Dizendo basta ao que não serve mais, enterrando no escuro do solo aquilo que morreu, para ser nutrição ao que está a nascer
Os frutos doces de uma planta indomável e resiliente