Erva Moura/Moira

29-01-2025

Javalis

Um osso que abre

Como mulher a parir, ou tivesse parido um bebé

Pois pariu-se a si própria

Há um luto do que foi

Tudo se transformou em luz

O seu corpo está a habituar-se

No nascimento há morte e na morte há nascimento

E a erva moira/erva moura traz isso

O que está escondido no escuro vem à tona

E mostra a vida que há na morte

Por agora, só as folhas verdes

Folhas que protegem, que saram e sanam

Que o que está no escuro também quer ser visto e ouvido

A doçura das bagas, reclama os frutos de estar na lama

As bagas são a fénix que renasce das cinzas

A erva moira não é veneno

É medicina

É a bonança depois da tempestade

Aplica a maceração das folhas nos ossos doridos

Ossos de matéria mortais se transformaram em solo fértil

Raiva que se transformou em amor

Transformação do noite em dia

Da sombra em luz

Lembra-te das flores bem pequeninas

Branquinhas com um centro de luz dourada

Porque às vezes, nos pequenos pormenores está a verdade e a liberdade

Um suco nutridor, que não é bebível, mas é poção para o luto

O luto da sombra

Porque ela foi companheira

Num processo de transformação

Porque tudo faz sentido

Mesmo a dor

Permite-te ser feliz amada

Está tudo certo e sempre esteve e sempre estará

Passinho a passinho

Agora protege-te e limpa as feridas e as cicatrizes, o pensamento do que foi com o suco da planta, em meditação

Um banho interno e externo de Erva Moura

A forte, a que surge do nevoeiro

Dizendo basta ao que não serve mais, enterrando no escuro do solo aquilo que morreu, para ser nutrição ao que está a nascer

Os frutos doces de uma planta indomável e resiliente