Ouvir profundamente
De escuta profunda, após noite ventosa e cheia de chuva.
Escuta profunda que vem na noite também.
Acordada e desperta, ouvi a voz.
A voz dela sabedoria ancestral e muito tocante e assertiva.
A voz que disse, vai e caminha.
Vai e vê. Vai e sente.
Assim o fiz.
Sabia que ia encontrar o Outono de putrefação. Sabia que ia dar de caras com os cogumelos.
No intuito de colher uvas apenas, encontrei muito mais!
Basta ouvir a voz.
A minha voz, a voz do Amor, da Natureza, do que é infinito.
A voz da Ilda que me move em dias outonais.
Guiei-me, passo a passo, de lama escorregadia até terreno seco.
Encontrei cogumelos comestíveis onde menos esperava e deliciei-me com figos e uvas.
Colhi-os em gratidão.
Em conexão profunda com a abundância de um tempo de ir para dentro.
De recolhimento em integração daquilo que foi.
Em deixar morrer o que já não tem vida na verdade.
Em sentir a putrefação.
Um tempo infinito e que começa agora, nas pegadas dos javalis e javalinas. E nas asas do Açor que olha de cima para aquilo que é terreno e mundano.
Abençoado tempo de Outono.
Abençoada a prosperidade dos dias curtos.
Abençoada esta existência.
Porque esta é a transição final, este o fim do ano.
Que venha o novo e que se olhe e escute o som dos tambores adufeiros, das Senhoras das Terras e das Águas e que tudo encontre paz.